

Quebrar da barra, nossa vermelhona, é uma Irish Red Ale bem clássica.
Maltada, forte e com uma alma de brasa que acende qualquer coração gelado.
Refugiado nas quebradas de Canoa
Praia do Peixe com seu porto estacionado
Alvarenga, um amigo mais que amado
Me aparece das entranhas da gamboa
Que surpresa, na garrafa a cerva boa
Do lugar poderoso que é o Sertão
Feita toda na quentura deste chão
E deixando este Chico bem contente
Preparada pelo muito experiente
Cervejeiro mor e mestre: o Lampião
Com o sol no horizonte se apagando
adentramos com a jangada em verde mar,
as cervejas abarrotam o samburá,
com alegria, uma a uma, nós provando.
Eis que ele vem a mim, vem questionando:
precisamos dar um nome bom, Dragão.
Se a gente não batiza, vai pagão.
Nesse ponto a cerveja é igual jangada.
Pois por ela ser assim tão encarnada
é Quebrar da Barra: vence a escuridão.
Quebrar da Barra
Fazia mais de um mês que não dava as caras pela Praia do Peixe. Poucos navios chegando no porto, comércio fraco, até as jangadas estavam rareando na orla. Por isso estava lá por Canoa, revendo a família e bebericando com os amigos.
Pois eis que num dia desses me aparece um conhecido das antigas trazendo umas quatro ou cinco garrafas de uma cerveja que ele mesmo fizera.
Eu tinha notícias que Alvarenga aprendeu a fazer cerveja depois que entrou pro bando do Capitão. Largou a mãe no Aracati e seguiu com a cabroeira no meio dos matos. E vez em quando voltava pro litoral.
Naquela manhã só ouvi seus gritos: ô de casa, Chico da Matilde! Chico da Matilde!! É Alvarenga, seu chegado!!
Foi um alvoroço danado, pois há tempos não o via. A primeira coisa que fez foi me entregar as garrafas de cerveja. Botei as danadas dentro do pote pra dar uma esfriadinha enquanto conversávamos. Contou das suas peripécias no cangaço, das saudades do mar e, principalmente, das cervejas que o capitão inventava, misturando maltes e lúpulos que ganhava dos figurões das gringas, com as frutas e árvores do nordeste brasileiro.
Depois de uma meia hora abrimos a primeira das cervejas que ele trouxe. E pense numa bebida boa, saborosa e da cor do fogo. Fiquei impressionado com o vermelho transparente que a cerveja apresentava. Até já havia tomado algumas parecidas, presentes dos capitães dos navios que ajudava a atracar no Porto de Fortaleza. Mas aquela estava diferente.
Tomamos mais uma e ele propôs da gente sair pra pescar na jangadinha de seu irmão. Estava na ânsia de enfrentar as ondas.
O sol já estava se pondo quando botamos a jangada no mar. Passamos da arrebentação e em minutos ganhamos o verde oceano. Claro que as outras cervejas estavam no samburá, pra bebermos na madrugada.
E foi o que fizemos, sob o céu estrelado e com o silêncio ao redor.
Ele me disse que precisava dar um nome pra cerveja, que cerveja é igual jangada: se não tem nome morre pagã e ligeiro.
Pois foi só ele fechar a boca que os primeiros raios de sol despontaram no horizonte, tingindo o céu de um avermelhado ao mesmo tempo intenso e fluido...
Falei pra ele: olha o céu, Alvarenga!! O sol mandou pra nós o nome da sua cerveja!! Ela agora está batizada: Quebrar da Barra.