

A Seiva é a American Lager do Cerne. Uma cerveja fácil de beber, leve, refrescante e, ao mesmo tempo, diferente.
A casca do cajueiro traz esse toque de estranheza e familiaridade. É um amargor diverso do lúpulo, mas que combina perfeitamente com os maltes e a levedura lager.
Saindo do RN
Naquela fuga sagaz
Caíram pro Ceará
Cajueiros... coqueirais...
Em sua rede sonhando
Lampião ia ditando
Um sonho muito audaz
De uma cerveja maltada
Clarinha: rumo certeiro
Mas o que diferenciava
Era um amargor derradeiro
Decerto não imaginava
Que o segredo estava
Na casca do cajueiro
A Seiva
Depois daquela batalha sangrenta pro rumo das terras potiguares e da sua difícil fuga para o litoral, o bando de Lampião resolveu se estabelecer nas areias alvas das praias cearenses, onde proviam de muitas boas iguarias da região, desde os frutos do mar até as frutas mais doces e suculentas. Os seus banquetes eram belos, com panelas de barro cheias de peixes, camarões, lagostas e ostras, sempre rodeadas por gamelas com muitos cajus, seriguelas, cajás e pitangas, enchendo a mesa de cores e aromas especiais.
A cerveja que fizeram quando chegaram na divisa do CE.RN já estava quase acabando e a sede dos cabras é uma coisa que tem de ser tratada com muito cuidado. O capitão fincara o seu punhal no tronco de um cajueiro, onde ele descansava à sua sombra, numa belíssima rede que ele mesmo havia costurado e bordado, por pura coincidência, com muito cajus, que faziam referência à uma certa chuva de cajus, mas isso já é outra história... Enquanto se balançava na sua rede, ele murmurava algumas coisas, às vezes indecifráveis. Ouvia-se “água boa essa daqui”, “saudade do sabor do malte”, “um amarguinho bem suave é bom”, “beeeeem clarinha”, até que ele se calou. Todos que por ali estavam também ficaram em silêncio, ouvindo o barulho das ondas quebrando na praia e o vento que soprava nas folhas das arvores. “O capitão dormiu”, alertou Maria. Todos saíram de lá, com aquelas frases na cabeça e já se movimentando para produzir alguma coisa próxima aos lampejos memoriais do seu líder. Acenderam o fogo, botaram água na panela, separaram os ingredientes e começaram o preparo: uma cerveja clara, com malte presente e com um pouco de amargor.
Enquanto isso, adentrando no mundo fantástico dos sonhos, Lampião acorda no futuro, de frente ao Cerne, no bairro das Perdizes, capital paulista, escuta uma música saindo pela porta e resolve entrar. Dá de cara com uma pessoa, vê que no local servem cerveja e pede uma bem maltada e clara. A pessoa lhe serve uma cerveja da casa, clara e com uma belíssima espuma. O capitão dá um xêro nela e depois aquele gole, que vem acompanhado de um profundo suspiro. Ele fica admirado com o amargor agradável que a cerveja apresenta e pergunta a quem lhe atendeu: e esse amargor, vem de onde??? Esse é o nosso segredo, capitão. O Capitão enfurecido saca seu punhal de prata e parte pra cima do sujeito: apois num se faça de besta e vá logo dizendo, cabra!!! O sujeito permanece tranquilo diante da ameaça e responde calmamente: o segredo está na ponta do seu punhal, na ponta do seu punhal, do seu punhal, punhal… aquelas palavras soam como um eco na cabeça de Lampião. É quando ele desperta, ouvindo a conversa dos seus.
“Mas como chegaremos nesse amargor?” Perguntou Maria. Todos em silêncio...
Aquele mesmo silêncio de algumas horas atrás... Nisso, ouviram o ranger da corda da rede no galho do cajueiro. Lampião se levanta, arranca o seu punhal de prata do tronco da árvore e traz junto um pedaço de sua casca, com uma resina dourada e translúcida, parecendo um mel puro. Só parecendo! Ele põe um pouco daquela mistura em sua boa, masca, dá uma cusparada e diz: “é amargor que tá faltando? Num tá mais”.