

Aqui o grande lance é uma farinha diferente, a do babaçu. Seca ainda mais nossa ESB, e dá um grau na cor de uma forma diferente. É só o Babaçu promete te surpreender.
Deixando a Serra do Tunga
num repente, supetão
“Macaco” bem perto funga
É cheiro de confusão
Buscando novos sabores
Começam a se arrumar
Cangalhas cheias de cores
No Maranhão se achegar
O bando por terra firme
Pelo mar o Capitão
Maria e Chico vão juntos
Alvarenga no timão
Por terra chegou primeiro
No Atlântico as novidades
Alvarenga foi certeiro:
Mazelas, no mar, saudades
Começaram o fabrico
Cangaço deu sugestão
Cientista disse: eu indico
coisa nova na poção
Pitanga foi como chuva
Casca de pau do caju
Dessa vez, como uma luva
Disseram: “É Só o Babaçu”
É só o babaçu
“...e foi festa até o quebrar da barra.”
No dia seguinte, depois daquele festeiro todo, o sol já torrava as terras na Serra do Tunga, quando o bando se reuniu para se organizarem e partirem dali o quanto antes, pois, assim como a notícia de que eles estavam ali chegou até o Dragão do Mar, era fácil dos “macacos” também terem acesso a essa informação. Lampião, um grande admirador da boa culinária e sempre interessado em experimentar coisas novas, ouvira falar das maravilhas providas do coco babaçu, oriundo das terras Maranhenses, donde se extraía óleo, farinha e até se fazia artesanato. Ele se lembrou disso, pois havia ganhado um belo colar feito da casca dura do babaçu de um velho amigo biólogo, que não via há tempos. Dadinho, o cientista, lhe contou várias histórias e lhe passou umas receitas de bolos, biscoitos e até para avivar aquele caldo de peixe. Também lhe mostrou o caminho que levava até Vitória do Mearim, no Maranhão, passando por Ipueira, em Pernambuco, Juazeiro do Norte, no Ceará, e Barro Duro, no Piauí, dentre tantas outras cidadelas, onde ele iria poder se aprofundar nessa nova possibilidade.
“Apôis, vamos!”, ordenou o capitão, já pedindo para todos juntarem os mantimentos, apearem as mulas, e não esquecerem os barris de cachaça e cerveja. Assim foi: todos juntos, parecendo uma engrenagem, enquanto Alvarenga e Chico da Matilde observavam toda aquela organização. Se falava muito pouco, só um ruído do movimento deles. O chiado da chinela, o aperto na corda das tralhas, a respiração e até o barulho do sol secando a terra e a folhagem. Lá no fundo, o som do pífano de Zabé, que toava de uma forma branda e triste, com a partida dos amigos.
Até que Alvarenga tem a brilhante ideia de convidar Virgulino e Maria de Déa para pegarem outro rumo até o Maranhão, pelo litoral, no barco de Chico da Matilde, que estava aportado próximo da divisa dos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, na praia de Sagi. Eles aceitaram o convite de pronto. O capitão reuniu Sabino das Abóboras, Luiz Pedro e Corisco, lhes passou as instruções para chegar ao destino e partiu para o litoral, já pensando num banho de mar e numa bela lagosta.
E foi desse jeito: o bando numa marcha pesada, passando pela Paraíba, Pernambuco, Ceará, Piauí, até chegar ao seu destino, depois de trinta dias, no centro-norte do Maranhão, às margens do rio Mearim. Enquanto isso, sob o comando do Dragão do Mar, Maria, Lampião e Alvarenga navegavam pelas águas quentes e claras do Atlântico Sul. Virgulino e Maria estavam simplesmente encantados com a beleza e o poder do mar, o que fazia com que eles pedissem para aportar a todo momento nas belas praias que lhes apareciam, fato esse que fez com que sua jornada demorasse mais um pouco do que o previsto.
Assim que o bando chegou pelas proximidades de Vitória do Mearim, Corisco foi à procura de Dadinho, para lhe avisar que seu amigo chegaria por aqueles dias. O professor então começou a lhes mostrar o poder do coco babaçu. E foi uma fartura só: doces, bolos, biscoitos, o óleo e a arte. Dadinho mostrou e explicou toda a utilidade e riqueza daquele fruto, o que fez atiçar a curiosidade do bando quanto à sua farinha, extraída de uma porção compreendida entre a casca e a quenga, chamada de mesocarpo, que é rica em amido.
“O que acontece se adicionarmos essa farinha no fabrico da nossa cerveja?”, perguntou Sabino das Abóboras. “O amido pode elevar o teor alcóolico dela e ela também tem a propriedade de dar uma cor escura à bebida”, respondeu Dadinho.
Numa carreira só, o bando começou a correria para pôr em prática essa ideia. Fez um fogo com as quengas do coco babaçu ali mesmo na beira do rio, jogou a panela nele com todos os ingredientes necessários para fazer uma grande surpresa para o Capitão e Maria.
Depois de alguns dias de espera, vê-se ao longe, com a luz do nascer do sol, a silhueta da vela da jangada de Chico da Matilde e logo em seguida eles aportam na margem do rio, alegres com o fuzuê que o bando estava promovendo, com batuques, gritos e cantos, expressando toda a saudade que estavam sentindo.
“Dadinho, cabra safado! O que você aprontou com meus cabras? Parece que estão bem mais fortes do que da última vez que os vi”.
“É o poder do babaçu, meu Capitão! E temos uma surpresa pra você. Prove aqui esse néctar”.
Lampião e Maria pegaram seus copos, admiraram a sua cor âmbar, a sua espuma consistente, deram aquele gole, um suspiro, e declararam em uníssono:
“É Só o Babaçu”